era tão bonito quando era possível viver eternamente em uma gaiola. agora, não; mas é preciso se acostumar à gaiola, enclinar a cabeça para o lado, caminhar sempre com um pé diante do outro, em silêncio, comer uma pêra ou duas, ter as mãos sempres livres, observar tudo com petulante desinteresse, não pensar mais naquilo, viver um dia de cada vez.
mas me parece que ainda não estou pronta para amanhã, passei a tarde toda simplesmente existindo; suspirando de vez em quando; o móbile estático sobre a cama; aqueles anjos bobos espreguiçando-se em nuvens, que simplesmente passaram.
e natália sentada sobre a mesa, os olhos impacientes voltados para dentro, esperando por aquele imenso balão, que talvez virá, talvez não.
e eu sentada sobre a cama, os olhos impacientes voltados para fora, esperando por um motivo, um sinal dos mais simples, que talvez virá (mas não, acho que não).
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