27 mai 2008

não era capaz de encontrar ferida alguma, nem um pequeno hematoma, nem o menor arranhão -- e, no entanto, alguma coisa incomodava-lhe tanto que era como se tivesse perdido um braço da maneira mais leviana possível. mas isso certamente era algo que não se podia curar com um band-aid ou dois, polly pensou, olhando-se no espelho. a torneira ainda pingava e já era quase dez horas da manhã; que terrível quinta-feira. fazia sol demais. e, além disso, ainda não havia levado aquelas coisas ao correio, e ainda não havia nem pensado em comprar flores, e o relógio era um diabo alado a gritar-lhe números, e -- muita coisa, certamente, mas ainda não havia tido tudo. mas não era possível ter tudo, não é? mas também não era possível ter o bastante.
caminhou até a janela e, no telhado vizinho, pássaros chamavam-lhe pelo nome, para dançar.
polly não teria uma vida muito longa, isso era certo.