13 juin 2008

da época em que eu tinha 17 anos e era legal:

"e então cheguei no tal lugar e havia uma fila enorme e havia sol e não havia ninguém minimamente conhecido (certo, até tinha alguns lá que estudaram comigo nos primórdios da sexta série, mas eu os odeio, então tenho o direito de fingir que não vi).
eu e meus inéditos óculos pra parecer inteligente. e então encontrei pessoas e os portões se abriram e meu estômago travou enquanto eu atravessava o labirinto, seguindo as setas até a sala 56 ao mesmo tempo que queria sair correndo. porque eu não quero estudar na usp, sabe; eu quero estudar na faap. e ficava repetindo isso pra mim mesma, tentando me convencer de que não passar também é aceitável enquanto eu fracassava como uma pata em exatas. a menina do lado sabia tudo, ela fez um monte de contas. chatona
e então estou lá, com calor, com frio, com sede, constrangida e dispersa tentando me lembrar de fórmulas; minha cabeça inútil escorregando pra outros pensamentos o tempo todo. daí, de repente escutam-se fogos e um "VAI CURÍNTIAAAA!!!"; sem contar é claro, os malditos aviões que passam realmente baixo por ali, quase arrancando os telhados e o tampo da cabeça das pessoas.
anyway. então tá. em duas horas todas as questões de humanas foram respondidas, e as de biologia também. mas faltavam todas aquelas contas, e eu não estsava entendendo mais nada, e o avião, a menina do lado, o ventilador, e eu pensando, nossa, eu estou pensando nas pessoas e as pessoas não estão pensando em mim, e não estavam mesmo porque sou a única idiota que pára a prova no meio pra pensar em pessoas completamente aleatórias. sério. gente que eu vi na fila e que pensei "uau, essa pessoa NÃO VAI passar', etc.
e então finalmente entreguei a prova, passei coisas erradas no negocinho (mas corrigi, duh) e saí da sala, de volta para o labirinto. lá estou eu, descendo as escada, guardando meus óculos de geek, e tentando encontrar a saída, quando encontro uma garota da minha escola, toda atrapalhada. ela é muito burra. perguntei se ela tinha ido bem, bla bla bla, e continuei descendo as escadas; só achei levemente estranho o fato dela estar subindo já que estávamos no quarto andar.
- uuh. onde vc tá indo?? -- eu perguntei.
- estou procurando a saída.
- tem certeza de que não é pra baixo?
- ahhhh... é.
"essa aí não vai passar na usp", eu pensei, maldosamente. reprovei metade das pessoas, acho que eu seria um ótima -- uhh -- fiscal, sei lá. a maior filhadaputa. quanta diversão. "hey, você. seus sapatos não combinam. você não vai passar na usp"; "você, garota, você tem cara de burra. você não vai passar na usp"; "oh meo deos, garoto. aí é o banheiro das meninas. mas eu te conheço então vai fazer a matrícula". coisas assim.
enfim. fiz 49 pontos eu precisava de 75. todo mundo do planeta foi mal naquilo, é incrível. menos a peituda da menina do lado; ela era o máximo e deve ter passado, aposto que sim.

agora vou ali com meu chapéuzinho cônico escrito "DUNCE", ficar olhando pra parede. "


ai ai. céus, eu sinto falta disso. agora eu sou chata e sem paciência e tropeço em sombras, enfim. mas acho válido lembrar que um dia eu fui legal; eu tinha um puta azar (ainda tenho), mas eu era legal. agora eu tenho um puta azar e não sou legal.
depois eu me pergunto por que diabos tudo dá errado.
se bem que naquela época também dava tudo errado.
só me resta concluir que o problema é com o resto do mundo e não comigo; antes eu pensava: é comigo, é comigo, mas, sabe, não é não. é só azar.