4 juin 2008

o céu está descascando mais uma vez, agora já é amanhã mais uma vez. um milhão de sombras entram por debaixo da porta, imprimindo cenas tão ridiculamente românticas nas minhas paredes; ah, mas você diria, não é bem assim. mas é que eu estava com tanto medo de não encontrá-lo que chega a ser bobo; eu tinha dito: nunca mais, nunca mais (como o corvo) -- o pássaro já havia partido, e a culpa era minha de pensar que um pássaro poderia ser, ao mesmo tempo, livre e meu. nem cheguei a fazer planos de gaiola, tão boba eu sou. então eu tinha dito: não, nunca mais, definitivamente, nunca mais, nada de pássaros, peixes, libélulas, morceguinhos, chega de tudo isso, nunca nunca mais, nada de céu para mim.
por isso eu queria viver debaixo da cama: viu, é tudo muito coerente.
ah, mas eu estava errada, não é? todos aqueles anjos de gesso resolveram finalmente atirar suas flechas; e eu vi todas as árvores da ásia pondo flores; e eu penso em coisas bonitas que nunca existiram antes, cadeiras com pernas de flautas, cadências de pérolas descendo as escadas, reinos completamente azuis; eu acordaria às quatro da manhã para construir um abrigo para você, se você estivesse morrendo de medo de um pesadelo com o fim do mundo ou com aquele olho imenso que você disse. e mais uma resplandescente bolha foi soprada, enquanto o crânio mordia a própria língua morta, sabendo-se errado -- mas apenas desta vez, ele diz.
que seja; me é o bastante ter acertado dessa vez. e, eu acertei, não é? we're after the same rainbow's end (and it's just around the bend).